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quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Anjo da Saúde


Angustiado, o Homem enfermo invocou a Proteção do Cristo e clamou em lágrimas copiosas:
– Senhor, ampara-me o coração desalentado no círculo das provas! Esgotaram-se-me os recursos para a resistência... Não posso mais! Minhas noites são prolongadas vigílias, repletas de dor, e meus dias constituem longas horas de aflição permanente! A dor lacera-me as carnes e desarticula-me os ossos... Compadece-te, Senhor meu! Desce um raio de tua divina luz que me restaure a força física, e me reerga o coração humilhado! Desiludido de todos os processos de cura, mobilizados na Terra, volto-me para o Céu, esperando-te a inesgotável misericórdia! ajuda-me, Pastor do Bem! Vê os meus sofrimentos e auxilia-me!...
De joelhos e braços abertos, o peregrino soluçava, contemplando o firmamento.
Ouviu Jesus a oração e enviou-lhe o Anjo da Saúde, que desceu, bondoso e prestativo, surgindo aos olhos deslumbrados do infeliz enfermo.
Em êxtase, o doente fitou o mensageiro e suplicou:
– Emissário do Médico Divino, lava-me as feridas dolorosas, levanta-me o espírito abatido! Há muitos anos sou um miserável sofredor, embora a minha confiança no Pai de Infinita Bondade! De corpo chagado e apodrecido, sinto que a esperança e a crença desertaram de minh'alma! Socorre-me, por piedade, caridoso emissário do Céu!
O gênio tutelar afagou-lhe a fronte, compassivo, e exclamou:
– Meu amigo, põe a consciência nos lábios em oração e responde-me! Tens vivido de acordo com a Vontade de Deus, fugindo aos caprichos do coração? Viveste, até agora, amando o Senhor Supremo, acima de todas as coisas, e querendo ao próximo como a ti mesmo? Dedicaste teu corpo e tuas faculdades à execução das divinas leis?
Presa do antigo hábito de fugir à verdade, o Homem quis proferir qualquer frase tendente a desculpar-se; entretanto, a presença do emissário sublime empolgava-lhe o ser e não conseguia furtar-se ao império absoluto da consciência. Dominado pela realidade, respondeu em soluços:
– Não!... ainda não servi às leis do Senhor como deveria... Contudo, Anjo Bom, compadece-te de mim, a enfermidade consome os meus dias, o sofrimento devora-me!
O enviado pousou a destra na fronte do mísero, como se intentasse arrancar-lhe a verdade do fundo do coração, e interrogou:
– Estarás, porém, disposto a esquecer, de imediato, o pretérito criminoso? Desculparás, fraternalmente, sem qualquer sombra de hesitação, a todos aqueles que te desejam o mal? Auxiliarás o inimigo?
O enfermo dirigiu ao preposto celeste um olhar de terrível angústia, e porque nada respondesse, o mensageiro continuou interrogando:
– Perdoarás sempre, esquecendo ingratidões, injúrias e pedradas? Recomendarás os teus adversários à bênção do Todo Poderoso, reconhecendo que eles são mais infelizes que tu mesmo, pela ignorância coque testemunham? Exercerás a piedade, beneficiando as mãos que te ferem e olvidarás, sem esforço, a boca que calunia?
Compelido pelas forças insofreáveis da consciência, o enfermo respondeu, sem trair a verdade:
– Infelizmente, ainda não posso...
– Não emitirás Pensamentos desarmônicos, ante a felicidade do próximo? – indagou o emissário, afável e benevolente – partilharás a alegria do vizinho e a prosperidade do amigo, como se te pertencessem também? Ajudarás ao irmão mais feliz, na consolidação da ventura que lhe coroa a existência?
O mendigo da saúde recordou suas lutas interiores, junto daqueles que lhe pareciam mais venturosos, e respondeu, sincero:
– Não posso ainda...
– Terás bastante disposição – prosseguiu afetuosamente o interlocutor – para manter viva a própria esperança? compreendendo a paciência de Deus, que nos aguarda a iluminação, há milênios incontáveis, decidir-te-ás a esperar, sem revolta, o entendimento dos teus irmãos de luta, por alguns anos? Saberás calar a desesperação, a fim de auxiliar em nome do Pai Altíssimo, mobilizando as forcas que te foram confiadas?
O desventurado suspirou e disse com tristeza:
– Ainda não me é possível proceder assim...
Após intervalo mais longo, o Anjo voltou a interrogar:
– Cultivaras o silêncio, quando a leviandade e a calúnia espalharem palavras loucas em torno de teu corarão? Defenderás a saúde, evitando as reações invisíveis de pessoas que poderias ofender com as falsas e delituosas apreciações verbais?
– Ainda não sigo semelhante caminho! – exclamou o infortunado.
– Poderás viver – continuava o mensageiro – no legítimo respeito à Natureza, conservando o teu vaso carnal de manifestações na sublime posição de equilíbrio, através da temperança, e cumprindo com fidelidade o programa de serviço, em benefício de ti mesmo e dos semelhantes? Experimentas o prazer de ser útil, sinceramente despreocupado das atitudes alheias de gratidão ou recompensa?
– Ainda não! – murmurou o interpelado em tom angustioso.
O emissário envolveu o infeliz num olhar de compaixão infinita e acrescentou:
– Oh! meu amigo, ainda é cedo para deprecares o socorro dos mensageiros da saúde! Se ainda não sabes viver, perdoar, esperar, compreender, ajudar e servir, de acordo com a Vontade do Altíssimo, ainda lutarás com a enfermidade, por muito tempo. Por enquanto, não peças vantagens que não saberias receber! Roga ao Senhor te conceda a energia necessária para que te afeiçoes à lei do equilíbrio e às exigências da reflexão!
Em seguida, o emissário endereçou-lhe carinhoso gesto de adeus. O infeliz, entretanto, buscando retê-la, exclamou em soluços:
– Oh! enviado do Céu, confiarei em Jesus!
O Anjo contemplou-o, bondoso, e respondeu ternamente:
– Sim, eu sei. Isto, porém, não basta. É necessário que Jesus também possa confiar em ti...
E afastou-se, para dar conta de sua missão, nas esferas mais altas.
Irmão X
do livro: "Lázaro Redivivo"
Francisco Cândido Xavier

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