Observações preliminares: A classificação dos Espíritos é baseada no grau de seu adiantamento, nas qualidades que adquiriram e nas imperfeições de que ainda devam se livrar. Essa classificação não tem nada de absoluto. Cada categoria apenas apresenta um caráter nítido em seu conjunto, mas de um grau a outro a transição é insensível e nos extremos as diferenças se apagam como nos reinos da natureza, nas cores do arco-íris, ou, ainda, como nos diferentes períodos da vida do homem. Pode-se formar um número de classes mais ou menos grande, segundo o ponto de vista de que se considere a questão. Ocorre o mesmo com todos os sistemas de classificações científicas: esses sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a inteligência, mas, quaisquer que sejam, não mudam em nada as bases da ciência. Assim, os Espíritos interrogados sobre esse ponto puderam variar no número de categorias sem que isso tenha conseqüências. Armaram-se alguns contestadores da Doutrina com essa contradição aparente, sem refletir que os Espíritos não dão nenhuma importância ao que é puramente convencional. Para eles, o pensamento é tudo.
Deixam para nós a forma, a escolha dos termos, as classificações, numa palavra, os sistemas.
Acrescentamos ainda esta consideração, que jamais se deve perder de vista: é que entre os Espíritos, assim como entre os homens, há os muito ignorantes, e nunca será demais se prevenir contra a tendência de acreditar que todos devem saber tudo só porque são Espíritos. Qualquer classificação exige método, análise e conhecimento profundo do assunto. Portanto, no mundo dos Espíritos, aqueles que têm conhecimentos limitados são, como na Terra, os ignorantes, incapazes de abranger um conjunto para formular um sistema. Só imperfeitamente conhecem ou compreendem uma classificação qualquer. Para eles, todos os Espíritos que lhes são superiores são de primeira ordem, sem que possam apreciar as diferenças de saber, capacidade e moralidade que os distinguem entre si, como faria entre nós um homem rude em relação aos homens civilizados. Mesmo os que têm capacidade de o fazer podem variar nos detalhes, de acordo com seus pontos de vista, principalmente quando uma divisão como esta não tem limites fixados, nada de absoluto. Lineu, Jussieue Tournefort proclamaram, cada um, seu método, e a botânica não se alterou em nada por causa disso. É que o método deles não inventou as plantas, nem seus caracteres. Eles apenas observaram as semelhanças e funções com as quais depois formaram grupos ou classes. Da mesma maneira procedemos nós. Não inventamos os Espíritos, nem seus caracteres. Vimos e observamos. Nós os julgamos por suas palavras e seus atos, depois os classificamos por semelhanças, baseando-nos em dados que eles próprios nos forneceram.
Os Espíritos admitem geralmente três categorias principais ou três grandes divisões. Na última, a que está no início da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o Espírito e pela propensão ao mal.
Os da segunda são caracterizados pela predominância do Espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: esses são os bons Espíritos. Os da primeira categoria atingiram o grau supremo da perfeição: são os Espíritos puros.
Essa divisão nos parece perfeitamente racional e apresenta características bem definidas. Só nos faltava ressaltar, mediante um número suficiente de subdivisões, as diferenças principais do conjunto. Foi o que fizemos com o auxílio dos Espíritos, cujas instruções benevolentes nunca nos faltaram.
Com o auxílio desse quadro será fácil determinar a categoria e o grau de superioridade ou inferioridade dos Espíritos com os quais podemos entrar em contato e, por conseguinte, o grau de confiança e de estima que merecem. É de certo modo a chave da ciência espírita, visto que apenas ele pode nos explicar as anomalias, as diferenças que apresentam as comunicações, ao nos esclarecer sobre as desigualdades intelectuais e morais dos Espíritos. Observaremos, todavia, que nem sempre os Espíritos pertencem exclusivamente a esta ou aquela classe.
Seu progresso apenas se realiza gradualmente e, muitas vezes, mais num sentido do que em outro, e podem reunir as características de mais de uma categoria, o que se pode notar por sua linguagem e seus atos.
Eles vêem a felicidade dos bons e isso é, para eles, um tormento incessante, porque sentem todas as agonias que originam a inveja e o ciúme.
– São os próprios Espíritos que se melhoram, passando de uma ordem inferior para uma ordem superior.
Como é que os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, podem ter a liberdade de escolha entre o bem e o mal? Há neles algum princípio, alguma tendência que os leve para um ou outro caminho?
Uma vez que há Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, deve haver, sem dúvida, degraus entre esses dois extremos?
Os Espíritos que seguem desde o princípio o caminho do bem nem por isso são Espíritos perfeitos. Se não têm tendências más ainda precisam adquirir a experiência e os conhecimentos necessários para atingir a perfeição. Podemos compará-los a crianças que, qualquer que seja a bondade de seus instintos naturais, têm necessidade de se desenvolver, se esclarecer e não passam, sem transição, da infância à idade adulta. Assim como há homens bons e outros maus desde sua infância, há também Espíritos bons ou maus desde sua origem, com a diferença fundamental de que a criança tem os instintos todos formados, enquanto o Espírito, na sua formação, não é mau, nem bom; tem todas as tendências e toma uma ou outra direção por efeito de seu livre-arbítrio.
A palavra demônio nos dias atuais significa e nos dá idéia de mau Espírito, porém a palavra grega daimôn, de onde se origina, significa gênio,inteligência, e se emprega para designar seres incorpóreos, bons ou maus, sem distinção.
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